Coleta seletiva tímida gera retorno aquém do esperado a cooperativas de Maceió


Autor: Jobison Barros
Fonte: http://gazetaweb.globo.com/

09/01/2017 08h51

Educação ambiental é o foco principal das cooperativas de reciclagem de Maceió, onde, diariamente, o trabalho de centenas de catadores depende de uma consciência da população. Apesar disso, a coleta seletiva ainda se mostra tímida na capital, levando em conta que 50.300 toneladas de resíduos são produzidas mensalmente e, apenas, oito delas são recolhidas para as cooperativas. 

De acordo com a Superintendência Municipal de Limpeza Urbana de Maceió (Slum), a seleção de resíduos é um processo que vem sendo incentivado pela Prefeitura, por meio do órgão, desde 2013. Para que o trabalho fosse efetivado, o Município entregou em 2014 o primeiro Galpão de Triagem de Resíduos Recicláveis de Maceió, no Benedito Bentes, cuja construção foi viabilizada por meio de recursos federais e da Prefeitura, além de uma parceria com a Braskem, que doou materiais e equipamentos.  

Com 650 m² de área interna, o Galpão beneficiou inicialmente 55 catadores, sendo 41 residentes no Benedito Bentes e 14 ex-catadores do antigo lixão de Maceió, encerrado em 2010. Eles foram inseridos no quadro de cooperados da Cooperativa de Recicladores de Alagoas (Cooprel), responsável pela administração do galpão. Além da Cooprel, a coleta seletiva em Maceió é feita também pela Cooplum e Coopvilla, que recebem auxílio do Município com a ajuda de custo para os caminhões de coleta e assessoria administrativa, no caso das duas primeiras.  

Quanto às estações de reciclagem, a Secretaria Municipal de Proteção ao Meio Ambiente (Sempma) explicou que a primeira foi instalada em dezembro de 2015, na orla de Pajuçara. Na sequência, foram instaladas estações na orla de Jatiúca (em frente à Academia Maceió, perto do Corredor Vera Arruda) e a terceira na Praça do Centenário, no Farol. Já neste ano, houve mudanças e as da Jatiúca e do Farol foram, respectivamente, para o Hospital Universitário (próxima ao canteiro lateral - na Avenida Paulo Holanda, no bairro da Cidade Universitária) e para Praça da Faculdade, no Prado. As estações que ficam próximo ao Hospital Universitário e ao Prado apresentam maior recolhimento devido à abrangência de atendimento a conjuntos habitacionais e bairros mais populosos. 

Uma tabela divulgada pela Sempma após levantamento da empresa Recicle Alagoas mostra que o total de lixo recolhido nas três estações de reciclagem, durante este ano, chegou a 64.039 kg, sendo 24.611 kg referentes ao plástico, 32.411  ao vidro, 32411  ao alumínio e  2582 ao papel. 

Fazendo um comparativo com o lixo produzido pela população, mensalmente, percebe-se que o trabalho ainda precisa avançar. Ou seja, por mês, são produzidas 50.300 toneladas de resíduos, sendo oito delas recolhidas pelas estações e encaminhadas até as cooperativas. A média diária de resíduos produzidos em Maceió é 1,7 tonelada e a anual chega a 540 mil toneladas. 

MELHORIAS NAS COOPERATIVAS E ESTAÇÕES

A ampliação das cooperativas está em discussão através de processo licitatório e a previsão é de que, a partir da contratação das novas, é de que a coleta contemple uma média de 60 mil residências em até quatro anos. 

De acordo com a Slum, a Prefeitura deu início, neste ano, ao processo burocrático de elaboração da chamada pública que será lançada com foco na ampliação da coleta seletiva a partir da contratação das cooperativas. Este processo, que está em fase de conclusão do edital para poder ser lançado, vem sendo acompanhado pela chefia do Ministério Público do Trabalho (MPT) e está sendo adequado conforme as solicitações. 

Por sua vez, o número de estações também será ampliado de três para 10 contêiners. "A distribuição dessas novas estações pode aumentar, estrategicamente, a quantidade de bairros e conjuntos que precisam ter a estação como um ponto de mudança para uma conscientização ambiental focalizada no reaproveitamento desses resíduos via reciclagem. Percebemos um aumento mensal dos materiais recolhidos, resultado da mudança de locais dos contêineres, mas, sobretudo, de como a população passou a entender que a coletiva seletiva pode ser feita para a destinação adequada de resíduos", comentou a assessoria. 

Em entrevista à Gazetaweb, a representante da Cooplum, Maria José da Silva, disse que o trabalho na cooperativa é árduo, mas vale a pena porque muitos resíduos são recicláveis. Além disso, a maioria dos moradores atendidos colabora com a prévia separação do lixo ainda dentro de casa. O local atende os bairros de Jacarecica, Cruz das Almas, Ponta Verde, Jatiúca, Farol, Jaraguá, Centro, Trapiche, Ipioca e outros bairros circunvizinhos. 

"Muita coisa precisa melhorar, mas a comunidade vem nos ajudando com a coleta seletiva. Alguns reclamam, não entendem nosso trabalho, mas a gente procura explicar. O nosso dia a dia é no caminhão de coleta e na triagem, dentro da cooperativa. Grande parte do material é reciclável", contou Maria José. 

TRABALHO ÁRDUO

Em abril de 2015, a reportagem acompanhou o trabalho das cooperativas, observando a dura realidade dos chamados "operadores do lixo", que dependem exclusivamente da reciclagem para sustentar suas famílias com um salário mensal de R$ 300. 

Durante dois dias, a reportagem se deparou com mulheres vestidas com a camisa da cooperativa, sacolas nas mãos e batendo de porta em porta. Elas recolhem o lixo doméstico e aguardam o caminhão para transportar o material até a Cooprel. Já na cooperativa, os catadores se mobilizam e, em um mutirão diário, separam os dejetos, o que é plástico, metal, papel e vidro.

O veículo pertence a uma empresa contratada pela Slum. Mas, o trabalho de coleta não se restringe ao caminhão nem às residências, pois há "carrocinhas" específicas da cooperativa para coleta nas casas e nos Pontos de Entrega Voluntários (PEVs) situados na Companhia de Saneamento de Alagoas (Casal), Escola Estadual Eunice Lemos Campos (Benedito Bentes I), na Toyota e outros dois em um posto de combustíveis na Serraria. 

Após a separação do lixo seco, os catadores colocam os materiais em comportas para o destino final: vender a empresas que compram o material. Os preços variam, a depender da quantidade e do tipo do lixo. Sabe-se, apenas, que 15 toneladas saem para venda. O ideal, segundo os catadores, é de 30 toneladas. O trabalho realizado tem o objetivo de fazer com que os dejetos não se percam, sejam aproveitados e o material, utilizado pela população, para um fim determinado. Um ciclo ambiental que pretende reduzir a poluição, separar o lixo que segue para o aterro sanitário e sustentar inúmeras famílias.

"Hoje, a gente tenta se manter com trezentos reais, chegando às 6h e saindo às 18h. No meu caso, meu marido está desempregado e tenho três filhos para sustentar. O que reclamamos aqui é da falta de segurança e das empresas que não nos ajudam, nem para doar, nem para comprar nada. Só a Tomé, do Cais do Porto, doa lixo toda semana, e só umas quatro empresas compram. Também pedimos a consciência da comunidade, que se acomoda e junta o lixo todo, acabando com o meio ambiente e com nosso trabalho", comentou, à época, Patrícia Barros, coordenadora da Cooperativa dos Recicladores de Alagoas (Cooprel/AL), sede situada no Benedito Bentes.